13 de dez. de 2020

CAIO ÚLIO CÉSAR - DITADOR ROMANO

General José Batista de Queiroz

Membro da AHIMTB/DF

 

            Três grandes generais brilharam na Antiguidade. O macedônio Alexandre Magno (356 a 323 a.C.), o cartaginês Aníbal (247 a 183 a.C.) e o romano Júlio César (100 a 44 a.C.) são considerados os três grandes mestres da guerra. Os dois primeiros tinham raízes militares. Todos, porém, foram inigualáveis na arte da guerra e invencíveis nas batalhas. Demonstraram ser magnânimos e cruéis com os seus adversários. César foi o mais condescendente com os seus inimigos. Todos sabiam perdoar, quando conveniente; punir, quando necessário. Esses três generais tinham coragem, audácia e liderança correndo em suas veias e, por isso, seus soldados lutavam pelo homem que os conduzia na batalha e não por suas ideias. Eram homens cheios de ambição; tinham sede de poder. Não iam à guerra por coisas pequenas, mas por coisas grandes. A ambição de César era ser ditador de Roma.

            Júlio César tinha algumas características que o distinguiam dos outros dois generais. Sua ascensão não começou como militar, mas como político. Mesmo sendo descendente da aristocracia romana, era um homem populista, que se preocupava com o povo comum. Ao contrário de Alexandre e Aníbal, tinha visão política da guerra e, por isso, sabia quando começar e terminar. Para ele, quanto mais longa fosse a guerra, mais difícil seria terminá-la. Como chefe militar, César foi o mestre da velocidade e da surpresa. Disse Barry Strauss em seu livro "Mestres do Comando" que "o exército de César tinha a velocidade de um leopardo". Dizia César que "a coisa mais potente no combate é o inesperado". Durante a batalha de Farsália, ao perceber a tática que seria usada por Pompeu, seu adversário, mudou a formação de combate, causou pânico no inimigo e derrotou um exército muito superior ao seu. César era Cesar, sabia explorar a surpresa.  Para ele, a batalha são tropas em movimento, que exigem mudanças de dispositivos, de acordo com a movimentação do inimigo. No combate, o ideal é que não existam erros, mas quando eles ocorrem, o importante é saber corrigi-los com rapidez. César era um líder que sabia motivar os soldados para a batalha e inspirá-los para a vitória. Os soldados confiavam nele. Nas batalhas, tal como Alexandre e Aníbal, César estava sempre à frente, correndo os mesmos riscos dos subordinados. Ele acreditava na sorte, no destino e na Divina Providência. Sua liderança era tão forte que seu exército suportava privações superiores às de outros exércitos. Para César, a reputação e o profissionalismo de um exército aumentam o seu poder de combate.

César viveu sua infância num ambiente conturbado em Roma. O Senado era o órgão que exercia o poder. Os senadores pertenciam à elite (patrícios), tinham cargo vitalício e desfrutavam de regalias e vantagens. Senadores e generais não confiavam uns nos outros. Em 88 a.C. o general Caio Mário, casado com uma tia de César, iniciou uma guerra civil e assumiu o poder, reduzindo a importância do senado e restringindo os privilégios de seus membros. Com a sua morte em 86 a.C., o general Lúcio Cornélio Sula (138-78 a.C.) foi proclamado ditador perpétuo, exercendo o poder de forma cruel e sanguinária. César atraiu sua inimizade, por casar-se  com Cornélia, filha de um adversário político de Sula. Por isso, foi obrigado a refugiar-se na Ásia e teve seus bens confiscados. Com a morte de Sula, César volta para Roma e apoia o partido popular. Por se opor ao Senado e a Cneu Pompeu Magno (106-48 a.C.), foi obrigado a refugiar-se novamente na Ásia. Em 75 a.C., inicia-se a Terceira Guerra Mitridática, entre Mitrídates VI (rei do Ponto) e Roma. César, que estava na Ásia, envolve-se nesse conflito e ganha fama como comandante militar. De volta a Roma, ajuda Pompeu e Crasso (o homem mais rico de Roma) a abolir a Constituição outorgada por Sula. Aos poucos foi ganhando prestígio e notoriedade, passando a ocupar altos cargos públicos. Em 61 a.C., é nomeado "pretor" da Hispânia, conquistada por Pompeu, adquirindo o direito de organizar um exército. Em 60 a.C., alia-se a Pompeu e Crasso e, juntos, formam o Primeiro Triunvirato Romano, que assume o comando de Roma. Pompeu era casado com Júlia, filha de César. César e Pompeu eram conhecidos pelo talento militar e Crasso por sua riqueza. Essa aliança abriu caminho para César. Com o apoio de Pompeu e Crasso, foi eleito, em 60 a.C., "cônsul" (mais alto cargo político) da República Romana.

Em 59 a.C., assumiu o comando  da Gália, com direito a ter quatro legiões sob seu comando (aproximadamente 24.000 soldados). A Gália compreendia a França, o norte da Itália e parte da Bélgica, Alemanha e Suíça, regiões habitadas por tribos celtas. De 58 a 52 a.C., Cesar conquistou toda a Gália, estendendo o domínio romano sobre os territórios a oeste do rio Reno, numa extensão aproximada de 600.000 km², adquirindo fama, riqueza e popularidade. Em 52 a.C., em Alésia, houve a última batalha das guerras gálicas, entre os 300.000 guerreiros liderados pelo gaulês Vercingetórix contra os 70.000 de Júlio Cesar. Foi a última tentativa gaulesa de expulsar os romanos de seu território. Inicialmente, os gauleses saíram vitoriosos, mas o cerco feito a Alésia  por César levou o inimigo à fome. Com a rendição de Vercingetórix, César consolidou o domínio romano sobre toda a Gália. Alésia foi uma das grandes batalhas da antiguidade.

Em 53 a.C., Marco Licínio Crasso, membro do Triunvirato, organizou um exército e invadiu o Império Parta. Estava em busca de fama, gloria e mais riqueza. Após cruzar a Mesopotâmia, enfrentou o inimigo na cidade de Carras (Turquia).  Embora tivesse um exército numericamente superior ao do comandante parta (Surena), foi vergonhosamente massacrado pelos partas.  Crasso morreu nessa batalha e seus soldados foram mortos ou capturados. Com a morte de Crasso, abriu-se uma crise no Triunvirato Romano. Pompeu aliou-se ao Senado e, juntos, passaram a conspirar contra César, por causa de sua popularidade e fama, adquiridas nas guerras gálicas. Com o fim do Triunvirato, Pompeu obteve o apoio do Senado e da aristocracia e foi nomeado "cônsul" de Roma. Com o fim de seu mandato na Gália, César recebeu ordens do Senado, controlado por Pompeu, para dispensar o exército e retornar a Roma, em 50 a.C. Com o fim de seu mandato na Gália, César perderia suas imunidades processuais.  Conhecendo as intenções de Pompeu e do Senado, Júlio César decide não cumprir a ordem e cruza o rio Rubicão (rio de águas vermelhas) com apenas uma legião (5.000 legionários), em 12 de janeiro de 49 a.C., violando a lei e iniciando uma guerra civil entre romanos, que duraria até 45 a.C. Ao chegar ao rio disse "Alea jacta est". Nenhum general poderia adentrar a Itália armado e Rubicão, a 250 km ao norte de Roma, era o limite entre a Gália Cisalpina e a Itália. Após cruzar o referido rio, conquistou várias cidades ao norte da Itália e derrotou, em 13 de fevereiro de 49 a.C., as tropas pompeianas, comandadas por Domício, em Corfínio,. Em seguida, marchou contra Roma, mas não invadiu a cidade. Os efetivos militares favoráveis a Pompeu estavam na Hispânia. Júlio César deixa o General Marco Antônio na Itália e marcha para a Hispânia, onde derrota, em Marselha, as tropas remanescentes deixadas por Pompeu. Mesmo contando com efetivo numericamente superior ao de César, Pompeu decide não enfrentá-lo e foge com o Senado para a cidade portuária de Dirráquio, na província romana de Epiro, que abrange territórios da atual Grécia e Albânia. Após o cerco a Marselha, César volta a Roma, onde se torna ditador. Em dezembro de 49 a.C., concede o título de cidadão romano aos habitantes da Gália Cisalpina que, no governo de general Sula, havia sido transformada em Província romana. Em 42 a.C., a Gália Cisalpina deixou de ser Província para tornar-se parte integrante da Itália romana.

Decorridos seis meses de sua aclamação como ditador, ele renuncia ao posto, cruza o mar Adriático e marcha em perseguição a Pompeu, que havia reorganizado seu exército em Dirráquio, na Albânia, onde os dois exércitos se enfrentam em 10 de outubro de 48 a.C. César cercou a cidade, obrigando os soldados de Pompeu a fugirem esfomeados. Sem suprimentos, César foi para a Tessália, norte da Grécia, em busca de alimentos para os seus soldados. Próximo à cidade de Farsália, os dois exércitos novamente se encontram, em 9 de agosto de 48 a.C. Pompeu tinha 60.000 homens contra 30.000 de César. Metade do exército de Pompeu foi massacrada. Perseguido por César, Pompeu fugiu para o Egito, onde foi assassinado em Alexandria por seus próprios soldados, a mando do rei Ptolomeu. Chegando ao Egito, Cesar apoiou Cleópatra na disputa contra seu irmão Ptolomeu, derrotado na batalha do Nilo em 47 a.C. César e Cleópatra se tornaram amantes e viveram juntos por mais de um ano. Em 46 a.C., ao retornar a Roma, foi nomeado ditador por 10 anos. Os filhos de Pompeu fugiram para a Hispânia e organizaram uma resistência, sendo derrotados na batalha de Munda, em março de 45 a.C. Munda fica no sul da Espanha, próximo ao canal de Gibraltar. Após essa batalha, César volta a Roma e protocola seu testamento, nomeando seu sobrinho-neto Caio Otávio ou Otaviano como seu herdeiro. A batalha de Munda marca o término da 2ª Guerra Civil da República Romana, iniciada em 12 de janeiro de 45 a.C., quando César cruzou o Rubicão.

Durante o seu curto governo, César planejou fazer uma reforma agrária, com distribuição de terras aos súditos; implementou um plano de obras públicas; promoveu inúmeras reformas políticas e sociais; diminuiu o número de cidadãos dependentes de alimentação fornecida pelo Estado e reduziu o poder e os privilégios dos senadores. Sua grande obra foi a reforma do calendário lunar, que tinha apenas 355 dias. Criou o ano de 12 meses e 365 dias. Esse calendário foi usado até 1582, quando foi substituído pelo calendário gregoriano. 

ATUAÇÃO DE ANA NÉRI NA GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA

General José Batista de Queiroz

Membro da AHIMTB/DF

Na história das guerras, a atuação da mulher não tem recebido o merecido destaque, apesar de seu papel fundamental nas atividades de retaguarda, no apoio aos combatentes, na assistência aos feridos. Só mereceram destaque oficial aquelas que realizaram feitos extraordinários, como Maria Quitéria (Batalha de Pirajá), Anita Garibaldi (Revolução Farroupilha), Ana Néri (Guerra da Tríplice Aliança), Joana d'Arc (Guerra dos Cem Anos), Florence Nightingale (Guerra da Crimeia) e outras. As mulheres participaram das guerras não apenas nas atividades de retaguarda, mas também na linha de frente, como é o caso de Joana D'Arc e Maria Quitéria. No final da 2ª Guerra Mundial, Hitler empregou mulheres como motoristas, a fim de liberar soldados para o combate. Na Guerra da Tríplice Aliança, muitas mulheres acompanharam maridos, filhos ou pais, dando-lhes suporte de retaguarda, como cozinheiras ou lavadeiras. Outras, conhecidas como vivandeiras, acompanharam espontaneamente seus companheiros. Em ambos os casos, muitas ajudavam na evacuação e no tratamento de feridos. Elas formavam um verdadeiro "exército invisível", desempenhando importante papel no esforço de guerra e no apoio logístico. Deram forte exemplo de patriotismo, coragem e abnegação, servindo de estímulo para o alistamento voluntário de homens. Nunca foram tratadas como heroínas, mas como coadjuvantes de heróis. Isto porque, no campo de batalha, sempre predominou o sexo masculino, tendo o trabalho das mulheres sido relegado a um segundo plano, embora tenham participado ativamente de todo o esforço de guerra. Mas o destaque sempre é dado para quem luta na linha de frente e não para quem trabalha ou luta na retaguarda.

                        Na Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), Ana Justina Ferreira Néri mereceu destaque como enfermeira, sendo considerada a pioneira do serviço de enfermagem no Brasil. Nasceu na Vila de Cachoeira-BA em 13-12-1814 e faleceu no Rio de Janeiro em 20-05-1888. Casou-se aos 23 anos com um capitão-de-fragata e ficou viúva aos 29 anos. Teve três filhos, dois dos quais escolheram a profissão de médico e o último seguiu a carreira militar. Todos, porém, foram convocados para a Guerra. Em 1865, D. Pedro II criou o serviço de Voluntários da Pátria, visando despertar o sentimento patriótico na defesa do País. Não querendo ficar longe dos filhos, Ana Néri escreveu uma carta ao presidente da Província da Bahia, em 08 -08-1865, oferecendo, como voluntária, seus serviços de enfermagem nos Hospitais de Campanha. Além de conhecimento sobre o uso de plantas medicinais, ela também tinha noções de enfermagem, adquiridas com as Irmãs Vicentinas de Salvador. O presidente da Província aceitou seu pedido e a contratou como enfermeira. Em 1865, incorporou-se ao 10º Batalhão de Voluntários e embarcou para Porto Alegre. Após aprimorar seus conhecimentos de enfermagem com as Irmãs Vicentinas daquela cidade, seguiu para o teatro de operações, iniciando suas atividades de enfermagem no Hospital de Corrientes, na Argentina. Nesse Hospital, havia milhares de feridos, vivendo em péssimas condições de higiene. A primeira providência de Ana Néri foi arejar e limpar as enfermarias, organizando grupos de trabalho, para melhorar as suas condições de higiene e de bem-estar dos enfermos. Esses grupos cuidavam da limpeza, do banho, da higienização do cabelo (para evitar piolhos), das roupas, do arejamento do ambiente. Um jovem paraguaio estava com a perna esmagada, correndo risco de gangrena. Nenhum médico quis operá-lo. Ana Néri amputou-lhe a perna e salvou a sua vida. Quase foi levada à corte marcial pelo diretor do Hospital. Este impôs-lhe, como castigo, a lavagem da roupa suja dos doentes. Ela cuidava dos feridos com amor e carinho, como se fossem seus filhos. Não importava a nacionalidade, se o ferido era amigo ou inimigo. Ela dizia: "Vim aqui para salvar vidas e não para matar homens". Depois de Corrientes, prestou serviços nos Hospitais de Humaitá e Assunção, assistindo os feridos, independentemente de sua nacionalidade. Em Assunção, montou, com os seus próprios recursos, uma enfermaria modelo.

                        Ana Néri deixou para as gerações futuras um legado de dedicação, abnegação, perseverança e amor ao próximo. Foi uma mulher que engrandeceu a História e mereceu destaque na historiografia oficial. Recebeu, por parte do Instituto Histórico e Geográfico, a denominação de "Mãe dos Brasileiros". A primeira Escola Oficial de Enfermagem no Brasil, criada em 1923, recebeu o seu nome, em 1926. É considerada a Matriarca da Enfermagem e a precursora da Cruz Vermelha Brasileira. Ela é a primeira mulher a ter seu nome inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, guardado em Brasília. Em reconhecimento ao trabalho dos enfermeiros, Getúlio Vargas assinou, em 1938, o Dec nº 2.956, instituindo a data de 12 de maio como dia do Enfermeiro. Essa data é também o dia mundial do Enfermeiro, em homenagem à data de nascimento de Florence Nightingale, a enfermeira heroína da Guerra da Crimeia (1853-1854).

5 de jan. de 2020

IMPÉRIO PERSA

General José Batista de Queiroz

Membro da AHIMTB/DF

O Império Persa, também denominado Império Aquemênida, foi fundado por Ciro, o Grande, em 550 a. C., após derrotar os medos e tornar-se Rei da Pérsia e da Média. Conquistou depois os Reinos da Lídia, da Babilônia e as colônias gregas da Ásia Menor. Ao morrer, havia construído um imenso Império, que se estendia das montanhas do Afeganistão até o rio Indo, nas margens do Mediterrâneo. Esses territórios foram ampliados pelos governos posteriores. O Império Persa durou até 330 a.C. (220 anos), quando foi conquistado por Alexandre Magno, da Macedônia. Foi o maior Império do Oriente Antigo, abrangendo territórios da Europa, da Ásia e da África. Ao atingir a sua extensão máxima tinha oito milhões de quilômetros quadrados (quase a mesma dimensão do Brasil) e uma população estimada em 50 milhões de habitantes, correspondendo a 44% da população mundial da época. Foi um Império de gestão moderna, como o da Alemanha e o da França de Napoleão, servindo de modelo para os gregos e romanos, em seus aspectos de governança. Era constituído de várias Províncias (Satrapias), independentes em costumes, leis, religião e cultura.

            A origem do Império Persa está no Irã. Por volta do ano 1.000 a.C., dois povos distintos se estabeleceram no planalto iraniano. Esses povos fundaram dois Reinos independentes: o da Média, ao norte, e o da Pérsia ao sul. Os medos se tornaram o grupo dominante. Conquistaram a Pérsia e incorporaram o seu território, passando a cobrar impostos. No ano 558 a.C., Ciro, de origem meda (seu avô foi rei da Média), ascendeu ao trono da Pérsia e organizou um movimento de resistência aos medos. Em 550 a.C., derrotou esses povos e fundou o Império Persa. Após dominar toda a região do Irã, Ciro subjugou o Reino da Lídia (provavelmente no ano 547 a.C.), depois o da Babilônia, em 539 a.C. e ainda capturou todas as cidades gregas da Ásia Menor. A Lídia corresponde à Anatólia, uma porção ocidental da antiga Ásia Menor (Turquia). É banhada pelo mar Negro, mar de Mármara e mar Egeu. Após ser conquistada por Ciro, tornou-se Província (Satrapia) do Império Persa. A Babilônia fica na região da Mesopotâmia, abrangendo os vales do Tigre e do Eufrates. Corresponde à maior parte dos atuais territórios do Iraque e Kwait, além de partes da Síria. A última campanha militar de Ciro foi contra os Massagetas, uma tribo de nômades que vivia na Ásia Central. Morreu durante essa campanha, em 530 a.C., e deixou, como legado, um dos maiores Impérios do mundo.

            Cambises, filho e sucessor de Ciro, deu continuidade à política de expansão, conquistando o Reino do Egito em 525 a.C., na batalha de Pelusa. Enquanto seu pai é lembrado por sua generosidade com os inimigos, poupando-lhes a vida, Cambises é lembrado como um tirano, de comportamento rancoroso, agressivo e temperamental Do Egito, marchou para conquistar Cartago, mas foi obrigado a voltar devido ao calor escaldante e insuportável do deserto. Deixou o Egito e faleceu durante o seu retorno à Pérsia, em 522 a.C.

            Dario, primo de Cambises, assumiu o trono em 522 a.C. e iniciou uma nova fase na história da Pérsia. Deu continuidade à política expansionista de Ciro, conquistando a Trácia (atual Bulgária), a Macedônia e territórios na Índia. Durante o seu governo, o Império atingiu o seu apogeu. Tinha grande capacidade administrativa e política. Além de expandir o Império, organizou o território, dividindo-o em 20 Províncias (Satrapias), governadas por líder provinciano (sátrapa), escolhido pelo rei. Organizou também um serviço de espionagem para fiscalizar os sátrapas. Instituiu um sistema monetário de moeda única (o dárico), cunhada em ouro ou prata, para facilitar o comércio entre as Províncias. Adotou o aramaico, herdado dos assírios, como idioma usado nas comunicações oficiais. Instituiu projetos de construção nas cidades de Susa, Parságada, Persépolis e Babilônia.  Implantou ainda um eficiente sistema de estradas, ligando as Províncias ao centro administrativo do Império, com destaque para a estrada que ligava Sardes a Susa, com 2.400 km de extensão. Essas estradas facilitavam a mobilidade das tropas e permitia organizar um sistema de correios a cavalo, com pontos de apoio.

            A sustentação do luxo do Rei e das elites, seus palácios, haréns e banquetes, recaía sobre o povo. A cobrança de impostos causava descontentamento. No período 499-493 a.C., houve várias revoltas nas regiões dominadas pelos persas, por causa desses impostos, com destaque para as colônias gregas localizadas no litoral da atual Turquia. Dario debelou essas revoltas e jurou punir as cidades gregas de Atenas e Erétria, por seu apoio aos rebeldes, iniciando a Primeira Guerra Greco-Pérsica. Invadiu a Grécia, mas foi derrotado na batalha de Maratona (490 a.C.). A partir dessa derrota, aumentaram-se as revoltas e o Império teve dificuldade em controlar seus domínios.

            Dario escolheu seu filho Xerxes para sucedê-lo, apesar de não ser o primogênito. Assumiu o trono após a morte de seu pai, em 486 a.C., e governou o império até 465 a.C., data de seu assassinato. Xerxes enfrentou também revoltas internas, mas sua obsessão era vingar a derrota de seu pai contra os gregos. Decidiu conquistar a Grécia, iniciando a segunda Guerra Greco-Pérsica. Derrotou os gregos em Termópilas (480 a.C.) e invadiu Atenas, incendiando a cidade e arrasando os santuários da Acrópole.  Foi, porém, derrotado na batalha naval de Salamina (480 a.C. Com essa derrota, o Império entrou em decadência. As revoltas internas, as grandes extensões territoriais e a diversidade cultural contribuíram para a sua derrocada.

Em 334 a.C., Alexandre Magno, da Macedônia, invadiu a Ásia Menor e derrotou os persas nas batalhas de Granico (334 a.C.), Isso (333 a.C.) e Gaugamela (331 a.C.). Em seguida conquistou Susa e Persépolis (330 a.C.). Não conseguiu, porém, estabilizar o Império conquistado. Após sua morte, o território foi fragmentado em diversos Impérios menores.

2 de jan. de 2020

O IMPÉRIO MACEDôNICO

General Reformado José Batista de Queiroz

Membro da AHIMTB/DF

            A Macedônia era um pequeno Reino, ao norte da Grécia, localizado numa região montanhosa com pequenas planícies. Sua economia baseava-se na agricultura e na pecuária. Seus habitantes tinham vínculos históricos e culturais com os gregos, cujos costumes e idioma eram muito parecidos. Era quase um Estado grego. Atualmente, a antiga Macedônia faz parte da Grécia. Em 36 anos, esse pequeno Reino transformou-se num dos maiores e mais poderosos Impérios da Antiguidade, estendendo-se da Península Balcânica até a Índia. Sua ascensão começou em 359 a.C. com Felipe II e terminou em 323 a.C., com a morte de seu sucessor Alexandre III, o Grande. A morte de Alexandre ocasionou um vazio de poder e seus generais dividiram o Império em três Reinos. Essa fragmentação facilitou o seu domínio pelo Império Romano, nos séculos II e I a.C.

            Antes de Felipe II, seus irmãos mais velhos Alexandre II e Pérdicas III lutaram para evitar a desintegração do Reino, enfrentando a aristocracia local, os ataques de Tebas e as invasões de suas fronteiras pelos ilírios. Durante o seu reinado, Alexandre II fez uma Aliança com Tebas, o maior poder militar da época. Como garantia desse acordo, foi obrigado a entregar reféns a Tebas, incluindo seu irmão mais novo Felipe II que, durante sua estada em Tebas, estudou as táticas militares dos atenienses e tebanos, bem como as formações de combate das falanges. Em 360 a.C., retornou para a Macedônia.

Em 359 a. C., Felipe II assume o trono e tem como objetivo transformar aquele pequeno Reino num Império.  Suas primeiras providências foram no sentido de unir e fortalecer o país, consolidar o trono, restabelecer e garantir as fronteiras. Para isso, construiu estradas, cidades, fortalezas e colônias. Eliminou os adversários, reduziu o poder dos aristocratas, confiscando suas terras e distribuindo-as aos camponeses. Após consolidar o Reino, organizou um poderoso Exército, tendo como base a falange macedônica (um aperfeiçoamento da falange grega). Os soldados da falange usavam armadura, capacete e lança, medindo 5,5 metros de comprimento. Com esse Exército, a Macedônia se tornou a maior potência militar de seu tempo.

            Com o fortalecimento do Reino, Felipe II adotou uma política expansionista. Seu primeiro objetivo seria conquistar a Grécia e depois o Império Persa. Antes, porém, dominou a Trácia (rica em ouro), a Calcídica e a Tessália. Com a exploração do ouro e prata da Trácia e do monte Pangeu, o Reino se consolidou e Felipe II partiu para dominar a Grécia.  A Guerra do Peloponeso e as rivalidades entre as cidades gregas contribuíram para enfraquecer a Grécia, facilitando a sua conquista pelos macedônios. Em 338 a.C., Felipe II derrotou os exércitos de Atenas e Tebas na batalha de Queroneia.  Após dominar todas as cidades gregas, criou a Liga de Corinto, que unificava todos os Estados gregos, exceto Esparta, numa Federação sob seu comando. Inicialmente, seu objetivo era garantir a paz na Grécia. Depois, acabou transformando-se numa Aliança militar para invadir a Pérsia. Felipe II propôs, então, à Liga a guerra contra o Império Persa. Auxiliado por seu filho Alexandre III, dirigiu seu Exército para a Ásia Menor, em 337 a.C. Esta operação, porém, foi interrompida, por causa de seu assassinato por Pausânias, em 336 a.C.

            Com a morte de Felipe II, seu filho Alexandre III ou Alexandre Magno assumiu o poder em 336 a.C., aos 20 anos de idade, e deu continuidade à política expansionista de seu pai. Em 334 a.C., cruzou o helesponto, atual estreito de Dardanelos, que liga o mar Egeu ao mar de Mármara, com um exército de 48.000 soldados de infantaria, 6.000 de cavalaria e uma frota de 120 navios. A maioria das tropas era de macedônios, mas havia também soldados de outros países, como a Grécia, a Trácia e a Ilíria. Após cruzar o helesponto, derrotou os persas na batalha de Granico. Foi a primeira vitória de Alexandre contra a Pérsia. Em seguida, libertou as colônias gregas subjugadas pelos persas e assumiu o controle da Ásia Menor. Em 333 a.C., marchou para Síria e, nesse mesmo ano, em Isso, derrotou Dario III, rei da Pérsia. Derrotado, Dario III fugiu, deixando em poder de Alexandre sua esposa, suas filhas e seus tesouros. De Isso, prosseguiu para conquistar a Síria, o Líbano e a Palestina. Após cercar e conquistar a cidade de Tiro, em 332 a.C., marchou na direção do Egito. Venceu a resistência de Gaza e, em seguida, entrou no Egito, em fins de 332 a.C. Fundou Alexandria em 331 a.C.

Após conquistar o Egito, Alexandre partiu, em 331 a.C., para a Mesopotâmia (atual Iraque), onde Dario III o esperava com um exército de 100.000 homens. Mesmo tendo apenas 50.000 soldados, derrotou os persas na batalha de Gaugamela. Essa vitória representou o fim do Império Persa e abriu o caminho de Alexandre para o Oriente. Ainda em 331 a. C., conquistou Babilônia, (capital do Império Persa) e as cidades de Susa e Persépolis. Em 327 a. C., marchou na direção da Índia. Nessa sua jornada pela Ásia Central, fundou várias cidades no Afeganistão e Tajiquistão e, em 326 a.C., invadiu a Índia. Penetrou até o rio Hidaspes, onde derrotou o rei Poro na Batalha de Hidaspes, em 326 a.C. Nessa região fundou a cidade de Bucéfala, em homenagem ao seu cavalo, morto na batalha. As tropas de Alexandre estavam cansadas e queriam voltar para casa. Na viagem de retorno, Alexandre morreu em Babilônia, no palácio do rei Nabucodonosor, em 323 a.C. Como não tinha sucessor, seu Império foi dividido entre seus comandantes em três Reinos: o do Egito, o da Mesopotâmia e Ásia Central e o da Macedônia e Grécia. Estes Reinos começaram a lutar entre si até serem dominados pelo Império Romano.

            A transformação do Reino macedônico em um grande Império se deve a Felipe II e a seu filho Alexandre, o Grande. Felipe II reorganizou o Reino, consolidou o poder, criou um exército eficiente e bem treinado. Com essa máquina de guerra, conquistou a Grécia, iniciando a expansão do Reino. Seu filho Alexandre deu continuidade a essa expansão, conquistando terras pelo mundo afora. Tinha na alma a sensibilidade militar e nas veias a coragem e a ousadia. O maior legado desse Império foi o helenismo, a expansão da língua e da cultura gregas no Oriente, principalmente na Pérsia e no Egito. Alexandria transformou-se no maior centro comercial e cultural da Antiguidade, suplantando Atenas. Essa expansão da cultura grega acarretou o florescimento, no Oriente, das artes, da ciência e da filosofia. Outro grande legado de Alexandre foi o rompimento das fronteiras, estimulando as trocas comerciais entre o Ocidente e o Oriente. A Antiguidade foi o tempo dos grandes Impérios.  

22 de out. de 2019

A ESQUERDA E A DEMOCRACIA

General Reformado José Batista de Queiroz

A liberdade e a soberania constituem a estrutura básica da democracia. Ambas começam com a criação do homem, quando Deus lhe concedeu o direito de escolha, o direito de ser livre. Somente com liberdade ele pode escolher o seu próprio caminho. Isto faz parte de sua natureza. A liberdade é o direito que o indivíduo tem de escolher o que ele quer ser, sem a interferência do Estado. A soberania é a capacidade que ele tem de exercer esse direito. A liberdade, portanto, deriva da soberania e ambas são interdependentes. Se um governo não permite que o cidadão exerça seus direitos primários em sua plenitude, então ele é totalitário e viola todos os requisitos da democracia. A liberdade é inerente ao indivíduo e não ao coletivo. Ela é propriedade do cidadão e por ele deve ser exercida. Não pertence às massas, porque é individual e intransferível.

            Um aspecto importante da democracia é a liberdade que o indivíduo tem para buscar a competência e produzir bens materiais e intelectuais, para que não dependa dos favores do Estado. Quanto maior for essa dependência, mais força e poder terá o Estado para dominar os indivíduos e a sociedade, enfraquecendo a liberdade e a soberania das pessoas. Quanto mais livre for uma sociedade, mais os indivíduos buscam o seu crescimento e as suas realizações pessoais. A democracia, ao contrário do socialismo, reconhece as individualidades. Cada indivíduo tem ambição e competência diferenciadas. Os seres humanos não são iguais. Pregar igualitarismo entre as pessoas é o mesmo que prometer paraíso para os pobres. São promessas conflitantes com a realidade. O desejo de crescer leva o indivíduo a produzir bens, sejam eles materiais ou intelectuais. Esses bens são de sua propriedade. Confiscá-los para redistribuir a quem não produziu nada é injusto e viola o princípio da soberania. Os bens que resultam do trabalho honesto de um indivíduo são individuais e não coletivos. O coletivo é formado por indivíduos, que até podem associar-se em empresas para produzir bens ou serviços. O cerne da empresa é o indivíduo e este é, portanto, o núcleo central da produção. Este conceito pode também ser estendido a países.  O que cada país produz é de sua propriedade. Se outro país interfere em outro no sentido de enfraquecer o seu direito de propriedade sobre parte de seu patrimônio está atentando contra a liberdade e a soberania desse país.

            Outro aspecto importante defendido pela democracia é a construção de homens livres, modelados na família, com valores éticos, morais e espirituais. A família é a unidade básica da sociedade e os valores são os seus pilares. Para a democracia, a família é a organização social primária, geratriz de todas as outras. O socialismo, porém, expande o conceito de família para toda a humanidade, o que contribui para debilitar os valores e as tradições do laço familiar. A agenda esquerdista trabalha no sentido de enfraquecer a família.  Para isso, defende, nos meios de comunicação, cenas libidinosas agressivas, permissividade sexual, vulgarização do casamento e atos de desarmonia dentro do núcleo familiar. Para a esquerda, quem deve modelar o indivíduo não é a família, mas o Estado, por meio da educação. Na Escola, o aluno deve aprender o que o Estado quer que ele aprenda dentro da proposta socialista e não o que ele realmente precisa aprender. A Escola é o lugar mais apropriado para vender ilusões e atacar os fundamentos básicos da democracia. A mesma estratégia que Hítler usou para implantar o nazismo, a esquerda usa para implantar o socialismo. Ela não passa de um lobo fantasiado de cordeiro.

Para alcançar seu objetivo de implantar um Estado socialista, a esquerda radical investe em várias frentes, como na formação de professores, no controle  dos meios de comunicação, nas entidades formadoras de opinião, na igreja, no domínio dos sindicatos e na ocupação de postos-chaves nas administrações da União, dos Estados e Municípios. Para conquistar a mente das pessoas, explora um sentimento próprio do ser humano, que é a compaixão dos que sofrem, dos menos favorecidos, dos grupos sociais minoritários. Para isso, apoia e defende estes segmentos e culpa os ricos pelas injustiças sociais, taxando-os de predadores da sociedade. Outra estratégia usada para enfraquecer a democracia é fraturar a coesão da sociedade, dividindo-a em classes antagônicas e estimulando a desarmonia social, como invasão de terras e outras ações perturbadoras da ordem.  Outra ideia explorada pela esquerda em sua doutrinação ideológica é a da libertação. Para ela, numa sociedade capitalista, o povo é escravo das ideias formuladas pelos ricos, havendo necessidade de substituí-las por conceitos renovadores, para que a sociedade se liberte da escravidão intelectual a que foi submetida pela classe dominante. Um grande obstáculo à conquista do poder pela esquerda são as instituições conservadoras e de estrutura bem organizada, as quais representam o cerne da democracia e dos valores éticos e morais. Por isso, são atacadas diuturnamente, de forma direta e, às vezes, por infiltrações, à semelhança do que faz o crime organizado.

O socialismo defende a construção de um Estado forte e grande, com funções ampliadas, para dominar os indivíduos, controlar os meios de produção e distribuição, aumentar a dependência dos indivíduos em relação ao Estado e transformar os cidadãos em servos e não em homens livres. A realidade mostra que a esquerda latino-americana tem, como ícones de democracia, governos ditatoriais, como os de Cuba, Nicarágua e Venezuela. O socialismo defendido pela esquerda radical é uma ideologia que não deu certo no mundo. Basta analisar os fluxos migratórios, direcionados para as democracias consolidadas, onde existe melhor qualidade de vida. A mente esquerdista é um poço de utopias e ilusões, usadas para enganar o povo. Uma de suas características é rejeitar as soluções propostas para os problemas da sociedade que não sejam as suas. Ela se julga dona absoluta da verdade. Não aceita opiniões que se opõem ao seu projeto político. O esquerdista de convicção ideológica só pensa em derrubar o capitalismo e implantar o socialismo..

Quanto mais conheço a agenda da esquerda, mais eu fujo dela. Não consigo absorver suas promessas sedutoras. Não vejo em suas ações a defesa intransigente da liberdade e da democracia. O que realmente defende é uma pseudodemocracia. Não existe em suas siglas partidárias a palavra "democracia". Na América Latina foram criadas duas organizações de esquerda, cujo objetivo é implantar o socialismo. O Fórum de São Paulo (FSP), criado em 1990 e ligada ao Partido dos Trabalhadores, e a Coordenação Socialista Latino-Americana (CSL), criada em 1986 e ligada ao Partido Socialista Brasileiro, foram gestadas em épocas diferentes, mas com o mesmo propósito.  A esquerda latino-americana é uma vitrine de mentiras, ilusões e fantasias. Atenta contra os bens materiais que o indivíduo honestamente construiu e contra a liberdade com a qual ele nasceu. A esquerda prega o socialismo como paraíso da felicidade, onde todos são iguais. Na verdade, porém, é um mundo vestido de autoritarismo, onde a pobreza continua, a corrupção prevalece, a liberdade some, a soberania morre, a democracia desaparece. O silêncio da esquerda é mais perigoso do que o raio.

Este artigo é uma síntese do livro "A Mente Esquerdista", de Lyle H. Rossiter.

19 de nov. de 2017

DE ONDE VENHO ....

Venho de uma terra,

onde nos campos canta a seriema,

nas capoeiras pia o inhambu,

onde as montanhas são onduladas,

os vales cobertos de névoas.

 

Venho de uma terra,

onde o céu é mais azul,

o sol mais radiante,

a noite mais fagueira,

a lua mais graciosa.

 

Venho de uma terra,

onde a aurora é mais bela,

o crepúsculo mais dourado,

o arco-íris mais colorido,

os passarinhos mais cantantes.


Venho de uma terra,

dos doces e das quitandas,

do queijo com goiabada,

do berrante e das boiadas,

dos tropeiros nas estradas.


Venho de uma terra,

onde a dança é a catira,

o violão é a viola,

o fandango é o pagode,

a bebida é a pinga.


Venho de uma terra,

onde o povo diz uai e sô,

a prosa tem seu lugar,

as igrejas são centenárias,

as orações cheias de fé.


Venho de uma terra,

onde nasceu o paraíso,

onde o mar quis morar,

onde o céu tem estrelas,

a vida felicidade.


Eu venho das Minas Gerais,

uma terra sagrada,

                                que levo para onde vou,

dentro da alma  e do coração.


   José Batista de Queiroz

29 de out. de 2017

MEU SONHO...

Meu sonho é ser

A brisa que acaricia seu rosto,

O vento que solta seus cabelos,

O mar que molha seu corpo,

A água que banha seus pés.

Meu sonho é ser

A luz que brilha em seus olhos,

O sol que queima a sua pele,

A lua que ilumina o seu sorriso.

A flor que perfuma a sua alma.

 

Meu sonho é ser

O jardim que você vê,

A rosa que você colhe,

O corpo que você toca,

A relva que você pisa.

                  Meu sonho é ser

O perfume que você usa,

A pétala que você beija,

A música que você ouve,

A oração que você reza.

 

Meu sonho é ser

Um pingo de orvalho em suas mãos,

Um raio de luar em seus olhos,

Um grão de areia em seus pés,

Um instante de vida em sua vida.

 

Meu sonho é ser

Um sorriso em seus lábios,

Um sonho em seus sonhos,

Um amor em seu coração,

Uma eternidade em sua vida.

 

                         Meu sonho é ter a sua beleza, a sua meiguice, o seu coração, a sua alma.

Meu sonho é ser apenas um pedacinho de você, para sempre.

 

 

José Batista de Queiroz

8 de ago. de 2017

DE ONDE VENHO

Venho de uma terra,

onde nos campos canta a seriema,

nas capoeiras pia o inhambu,

onde as montanhas são onduladas,

os vales cobertos de névoas.               

 

Venho de uma terra,

onde o céu é mais azul,

o sol mais radiante,

a noite mais fagueira,

a lua mais graciosa.

 

Venho de uma terra,

onde a aurora é mais bela,

o crepúsculo mais dourado,

o arco-íris mais colorido,

os passarinhos mais cantantes.


Venho de uma terra,

dos doces e das quitandas,

do queijo com goiabada,

do berrante e das boiadas,

dos tropeiros nas estradas.


Venho de uma terra,

onde a dança é a catira,

o violão é a viola,

o fandango é o pagode,

a bebida é a pinga.


Venho de uma terra,

onde o povo diz uai e sô,

a prosa tem seu lugar,

as igrejas são centenárias,

as orações cheias de fé.


Venho de uma terra,

onde nasceu o paraíso,

onde o mar quis morar,

onde o céu tem estrelas,

a vida felicidade.


Eu venho das Minas Gerais,

uma terra sagrada,

que levo para onde vou,

dentro da alma  e do coração.

 

José Batista de Queiroz

10 de fev. de 2017

JENIPAPO


(A Batalha da Unidade Nacional)


General José Batista de Queiroz (*)


A Batalha de Jenipapo foi travada em 1823, entre piauienses e cearenses de um lado e portugueses do outro. Ocorreu às margens do riacho do mesmo nome, no município de Campo Maior-PI. Foi a mais violenta batalha ocorrida no processo de Independência, tendo sido decisiva para a manutenção da unidade nacional. Evitou que Portugal mantivesse, após o Grito do Ipiranga, uma colônia portuguesa no norte do Brasil. Essa batalha foi travada entre soldados e sertanejos, entre instrumentos de guerra e instrumentos de trabalho, entre o desejo de subjugar e o ideal de liberdade. Os piauienses perderam a batalha sob o aspecto tático, mas ganharam a guerra sob o ponto de vista estratégico. Sua valentia e coragem abalaram o poder militar de Portugal na região, obrigando seus soldados a se renderem, acabando com o sonho português de uma colônia no Brasil.

 O Grito do Ipiranga (7-9-1822) não ecoou em todo o Brasil. Algumas províncias do norte mantiveram fidelidade à metrópole. O Piauí, porém, era o centro das ideias libertadoras. Portugal nunca deu grande importância a essa região. A Capitania de São José do Piauí só foi criada em 1715 e, até 1822, não dispunha de nenhuma escola de ensino regular. A economia, entretanto, estava em franca expansão, tendo como principais produtos o gado e o algodão. Cerca de 30.000 cabeças de gado eram abatidas anualmente para abastecer os mercados do Maranhão, Ceará e da Bahia. Quase metade da renda bruta das fazendas abastecia os cofres portugueses.  Com a proclamação da Independência, Dom João VI voltou suas atenções para o norte da ex-colônia, onde desejava manter um pedaço geográfico sob seu domínio. Para isso, enviou para Oeiras, então capital do Piauí, o Major João José da Cunha Fidié, com a missão de sufocar levantes e manter a região como colônia portuguesa.  Fidié era um soldado experiente. Tinha lutado contra as forças de Napoleão. Foi nomeado Comandante das Armas no Piauí, aonde chegou em 1822.

A 19-10-1822, Parnaíba (parte mais rica da Província do Piauí) aprova, por meio da Câmara Provincial, sua adesão à Independência do Brasil. A 13-11-1822, Fidié parte com suas tropas (cerca de 1.600 homens) para aquela cidade, a 600 km de Oeiras, com o objetivo de sufocar o levante, prender revoltosos e restabelecer o domínio lusitano. Ao chegar a Parnaíba, em 18-12-1822, os líderes já haviam se refugiado no Ceará. Enquanto isso, em Oeiras, Manoel de Sousa Martins, futuro Visconde de Parnaíba, declara a adesão do Piauí à Independência, em 24-1-1823, e assume a Junta de Governo. Fidié decide, então, retornar a Oeiras, deixando uma pequena força em Parnaíba. A 5-3-1823, Leonardo de Carvalho Castelo Branco proclamou a adesão de Campo Maior à Independência. A cidade era ponto de passagem das tropas de Fidié, em seu retorno. A população decidiu barrar essa passagem. Caso Fidié chegasse a Oeiras, o sonho português de consolidar uma colônia no Brasil poderia ser viabilizado. A 12-3-1823, o Capitão Luiz Rodrigues Chaves convoca a população de Campo Maior a juntar-se aos 500 cearenses já arregimentados, conseguindo reunir 2.000 homens. A missão era barrar, nas margens do riacho Jenipapo, o deslocamento das tropas de Fidié para Oeiras. Embora os patriotas estivessem em superioridade numérica, o combate seria desigual. Os portugueses dispunham de homens adestrados, armamento, munição, infantaria, cavalaria e artilharia (11 canhões). Os piauienses e cearenses não tinham nenhum adestramento militar. Eram agricultores, roceiros, vaqueiros, gente simples do sertão. Partiram para o combate, armados apenas de facões, chuços, machados, foices, facas, paus e pedras. Eram movidos pelo ideal de libertar-se do domínio português. A 12-3-1823, Fidié chega às margens do Jenipapo. Às 09:00 horas do dia seguinte tem início o combate, que dura até as 14:00 horas, com a derrota e a retirada dos patriotas. Foi uma batalha sangrenta, com combate corpo a corpo, entre facões e baionetas, entre pedras e canhões.  Os patriotas tiveram 542 homens aprisionados e 200 vítimas. Ao término do combate, os soldados portugueses estavam exaustos. Foi uma luta violenta sob um sol escaldante. Não tinham força física para perseguir os retirantes, cuja valentia, coragem e espírito de luta amedrontaram os adversários e minaram a sua vontade de lutar. Terminado o combate, Fidié acampou em Campo Maior por alguns dias. Os patriotas realizaram um ataque de surpresa a esse acampamento, apoderando-se de armamento e munição. Essa ação afetou ainda mais o moral dos portugueses. A 16-3-1823, Fidié partiu para Estanhado, hoje União, onde mudou de planos. Ao invés de ir para Oeiras, decidiu refugiar-se em Caxias-MA, motivado pela resistência em Oeiras e pelo baixo moral de sua tropa. Em Caxias, muitos soldados desertaram. Os "independentes" organizaram uma força de 6.000 homens, formada por cearenses, piauienses e maranhenses para prender Fidié. Após um cerco de 15 dias, os portugueses se renderam em 31-7-1823. A 6-8-1823 foi proclamada a independência do Maranhão, Piauí e Ceará. Fidié foi levado para Oeiras e depois para o Rio de Janeiro, de onde foi extraditado para Portugal.

A Batalha de Jenipapo ajudou a garantir a unidade nacional e pôs fim à esperança portuguesa de uma colônia no norte do Brasil. Ela retrata a coragem e o patriotismo do piauiense. Foi a maior e a mais violenta batalha na luta pela Independência, na qual ocorreram degolas em ambas as partes. Não consta dos livros didáticos e nem é estudada no ensino fundamental e médio. A Assembleia Legislativa do Piauí aprovou, em 2005, a inclusão da data de 13-3-1823 na bandeira do estado. Em homenagem aos valorosos piauienses, o Exército brasileiro deu denominações históricas a unidades militares com o nome de "Batalhão Heróis de Jenipapo" (2º BEC), "Batalhão Alferes Leonardo de Carvalho Castelo Branco" (25º BC) e "Batalhão Visconde de Parnaíba" (3º BEC). A data de 13-3-1823 foi "o dia em que uma causa foi mais importante que uma arma".


(*) Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil

SAUDADE DE GRANADEIRO

Se a primavera é a estação mais alegre do tempo, hoje é o dia mais saudoso do ano. Mais uma vez aqui estamos reunidos, de coração umedecido de saudades, para juntos celebrarmos a união indissolúvel de homens que vestiram, no passado, o uniforme garboso do Batalhão da Guarda Presidencial. Mais uma vez, vamos palmilhar a estrada do tempo que nos leva ao passado, em busca daqueles momentos que tanto marcaram nossas vidas, e deixaram fortes lembranças enclausuradas em nossos corações. Hoje, vamos acordar as saudades adormecidas e repartir as alegrias esvoaçantes, que estão penduradas dentro de nós.

                Quando ainda viviam o tempo doce de suas vidas, o dever os levou pra longe, longe de seus pais, de seus amores, de sua terra natal, rumo a Brasília, uma cidade que nascia resplandecente no coração do Brasil. O ponto de encontro de todos vocês foi o BGP, um Batalhão que deixou registrados, nos seus pensamentos, dias de saudade, uma saudade brejeira que, até hoje, continua viva, flutuando na alma de cada um.

                Vocês se tornaram granadeiros e granadeiro é aquele que já traz dentro de si uma semente de amor ao Exército e ao Brasil, um amor em constante ebulição, iluminado e prateado por raios de sol. Assim são vocês e assim serão pela estrada do tempo, porque o peito de um granadeiro é a morada segura da virtude de um soldado. Seus exemplos são como raios luminosos, que irrigam e atravessam gerações, deixando sulcos na memória do tempo. Ser granadeiro é ter o espírito colorido de verde-amarelo, é ser um brasileiro de alma e coração, é viver um sonho para sempre.

                Hoje, os corações aqui presentes têm cheiro de lembranças, lembrança do passo vagaroso do tempo, em que os acordes de um clarim interrompiam o sono repousante de vocês, anunciando o nascer de mais uma aurora. Era mais um dia de saudades, saudade do lar aconchegante, dos rostos suaves, dos momentos alegres, dos anos que não voltam mais. Era uma saudade que exprimia o peito e torturava a alma.

                Vocês jamais se esquecerão das horas de sentinela, dentro ou fora de uma guarita, ouvindo o silêncio da noite, observando o céu semeado de estrelas, vendo a lua prateando a relva, ouvindo o vento rumorejando nas árvores, sentindo os ardores de um sol a pino, vendo o manto azul salpicado de nuvens brancas, contemplando o sol a beijar as serranias e o dia se afogar na noite. Eram momentos de meditação, de sono, de cansaço, de saudade. Como era lento o passo das madrugadas! Como seria bom se fosse possível acelerar o tempo! Mesmo na adversidade, você, granadeiro, pode ser comparado àquilo que, na memória dos homens, existe de mais heroico, de mais valente, de mais soldado.

                Até hoje, vocês carregam as lembranças daquelas noites melancólicas passadas nos alojamentos, enfrentando uma epidemia de saudade e tristeza. Naquele tempo já empoeirado, mantinham acesa a esperança de retornar ao torrão natal e abraçar a família, os amigos e os amores. E hoje aqui estão e ainda guardam no peito as lembranças de uma vida de soldado e ainda cantam as canções militares que o tempo não apagou. O tempo não faz com as lembranças o mesmo que o vento faz com a poeira.  Hoje, podemos dar as mãos e cantar as canções alegres que, no passado, empolgaram a nossa alma de soldado, porque somos todos frutos da mesma árvore.

                A saudade é um das palavras mais bonitas do dicionário e a emoção mais doce de nossa alma. Vamos em frente, granadeiros, porque os dias futuros nos aguardam, para nos saudar com mais alegrias, mais emoções, mais saudades. Ser granadeiro é ser a lembrança e o parceiro do tempo. O tempo caminha e nós caminhamos com ele. Obrigado Ibitinga, por nos acolher em seu regaço. Obrigado João Carlos, por nos proporcionar momentos alegres e saudosos como as primaveras. Obrigado Deus, por mais este encontro com a saudade.


General José Batista de Queiroz

 

 

Ibitinga, 26/3/2016

22 de abr. de 2016

SER SOLDADO

General José Batista de Queiroz

É ter orgulho de ser soldado e saudade de ter sido; é ter somente valores e alegrias a serem repassados para a família e as gerações; é ter dentro de si o ideal da servidão até o limite da vida.

É lutar incansavelmente pela continuidade de valores, resistindo às investidas desagregadoras dos homens e do tempo, à semelhança das palmeiras que resistem à força do vento.

É ver na profissão a pureza de um altar revestido de branco, a retidão de um caráter cimentado pelas virtudes, a grandeza de um ideal marcado pela servidão.

É ter a Pátria na alma e no coração; é amá-la com sinceridade, sem fingimento, sem rodeios, sem falsidade; é ser capaz de dar a vida por ela; é servir ao País como o monge serve a Deus; é sentir em seu coração as melodias de sua terra.

 

É sentir saudade da alvorada e do silêncio; ouvir o toque de um clarim como se estivesse ouvindo o canto de um rouxinol; recordar as horas passadas em seu posto de sentinela, sentindo a brisa das madrugadas; conviver com a solidão da noite e namorar as estrelas no céu.

É ir para o quartel com os últimos lampiões da noite e os primeiros raios do sol, sentindo o sabor das manhãs; é marchar todos os dias, com elegância e vibração, ao som dos dobrados militares; é cantar com alegria e entusiasmo as canções que se aprendem nos quarteis.

É ter orgulho do uniforme como o padre tem da batina; é trabalhar com o entusiasmo de quem é jovem, com a alegria de quem é feliz; é acreditar na sua missão de defender o Brasil e preparar-se para ela com dedicação e fé.

 

É não fraquejar diante das incertezas e dos obstáculos; pensar sempre no sucesso, nunca no fracasso; ter liderança para conduzir homens no cumprimento da missão; ser como uma águia voando para o alto, cheia de esperança.

 

É viver a paz preparando-se para a guerra; estar na guerra lutando pela paz; ter coragem de enfrentar a batalha como os rochedos enfrentam o mar; ter a valentia de um centurião e ser um guerreiro durante a vida inteira.

 

É ter o espírito colorido de verde-amarelo; acreditar no Brasil como os rios acreditam no mar; pensar no futuro como as flores pensam na primavera;  guardar no coração as canções que embalam ou embalaram a sua vida na caserna.

 

É estar presente no Brasil inteiro; é viver esquecido na paz e na alegria e ser lembrado nas calamidades e na dor; é ser solidário aos desamparados e estender a mão aos humildes e necessitados; é ser motivo de orgulho para um povo e merecer a sua confiança e admiração.

 

 

É possuir a etnia das raças, o sentimento das pessoas, a simplicidade dos humildes; é ter o sorriso aberto de nossa gente, o espírito bondoso de nosso povo; é ouvir o canto do vento nas palmeiras, o hino da passarada nos arvoredos; é ser a roupa que veste o povo do Brasil; é ser um brasileiro de alma e coração.

 

É morar nas regiões mais distantes e isoladas do país, cumprindo o seu dever com abnegação e zelo; é conhecer a floresta e a caatinga, as serras e as coxilhas, os sertões e as praias, os rios e os mares; é conhecer as diferenças deste Brasil imenso.

É vigiar cada pedacinho do céu que cobre o Brasil; proteger o mar que abraça a nossa terra;  defender o solo onde vive a nossa gente; é garantir a soberania do país que pulsa forte em nossos corações .

É ser um cidadão comum, semelhante àquele que anda pelas ruas, que cruza com as pessoas, que brinca com as crianças, que ama o próximo, que sorri para os outros, que é companheiro e amigo, que é honesto e confiável.

É não ser melhor nem pior do que ninguém; é cumprir o seu dever com seriedade e zelo; é ter olhar sincero e atitudes francas; é usar palavras simples para dizer a verdade.

É aceitar as diferenças, sem preconceito de raça, de condição social, de religião, de ideologia, de idade; é ser um brasileiro oriundo dos pampas, das coxilhas, das serras, das florestas, dos pantanais, dos litorais; é ter origem nas choupanas, nos palácios, nas cidades e nas fazendas, nos bairros ricos e pobres; é ter a cor do Brasil.

 

É estar em sintonia com as aspirações do povo que representa; é respirar o mesmo ar que ele respira e sentir a mesma dor que ele sente; é estar ao lado da liberdade e da democracia; é não ter espírito de vingança e não ser prepotente; é saber perdoar e oferecer a seus adversários a sua mão amiga e tolerante.

 

É buscar a felicidade na alegria de servir, na simplicidade da vida, na honra do uniforme, na nobreza da missão; é ter a virtude de um rei sem ser rei, a simplicidade de um monge sem ser padre; é ter orgulho de si mesmo e não ter vergonha de ser honesto; é viver um sonho e querer ser soldado para sempre;  é ser um brasileiro de corpo e alma; é  ser gente...